O amálgama da alma de Jorge Mautner

A edição 124 da revista Princípios, "revista teórica, política e de informação" do PC do B, traz matéria sobre Jorge Mautner, motivada pelo filme Filho do Holocausto, de Pedro Bial e Heitor Dalincourt. Segue um trecho e, abaixo, link para a entrevista completa em pdf.

 

– “Mas o amálgama vem de mais longe, vem de José Bonifácio e Joaquim Nabuco” – diz Mautner. “Partimos de um mesmo berço de ideias, que une a visão antropofágica de Oswald de Andrade até a afirmação cultural da negritude brasileira. O Tropicalismo é uma expressão dessa união que permeia toda nossa visão cultural que vem desde as mais antigas culturas ancestrais dos nossos índios, pré-taoístas, passando pelos nossos poetas românticos como José de Alencar, por Villa Lobos, por Mário de Andrade, por Getúlio Vargas, pela construção de Brasília, Oscar Niemeyer, Darcy Ribeiro, Juscelino, tudo.”

Mautner completa dizendo que Mário e Oswald de Andrade “descobriram o Brasil em tom de fúria, em tom de antropofagia, de manifesto, de ataque”, enquanto “o Tropicalismo seria a tranquilidade já da certeza de que nossa riqueza é nossa diversidade cultural.”

Quando lhe perguntei como resume a cultura brasileira, Jorge Mautner lembrou que ele próprio é fruto de três culturas diferentes: do pai, judeu e ateu; da mãe, eslava e católica; da babá, negra e filha de santo do candomblé. E completa:

– “Desde o começo o meu amor ao Brasil é o meu amor à vida. Assim como meu pai, Paul Mautner, que era apaixonado pelo Brasil. A cultura brasileira foi sendo formada por essa mistura entre índios, negros e brancos de todas as cores. O Brasil é uma inspiração! Veja que tudo isso constrói a nossa originalidade, que está sendo vista pelo mundo todo. Nós somos esse amálgama. Gilberto Freyre, no livro China tropical, disse que nos séculos XVI e XVII o Brasil era inclusive hindu. A meia dúzia de brancos que colonizou nosso país e dominou o continente logo teve que conviver com milhares de índios, milhares de escravos. O pessoal da casa grande ia assistir aos festejos da senzala. E aprendeu com eles. O tempo todo a pulsão verdadeira é essa, a solidariedade, o mutirão.” Mautner enfatizou também a generosidade que faz parte da vida do nosso povo, povo hospitaleiro e receptivo aos estrangeiros, desde os tempos em que éramos todos índios e chegaram a estas terras os primeiros brancos europeus.

 

Entrevista completa disponível em pdf.

 

Share